quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Vamos falar de amizade



Acordei com a luz do dia entrando pela janela do quarto, o relógio marcava 10:00 horas. Eu precisava levantar me vestir, ainda tinha o almoço com o Dr. Sullivan.
Que coisas importantes seriam estas?
O dia estava tão lindo e convidativo!
Era fim de outono, lá fora as arvores soltavam suas últimas folhas avermelhadas, formando assim um maravilhoso cenário. Lamentavelmente isso era prelúdio de inverno.



- Inverno... Murmurei, enquanto procurava na cômoda alguma coisa pra vestir.
Ouvi passos se aproximarem da porta.
- Menina Morton?
- Avise que já estou descendo Bertrand. – respondi sem dúvidas de que se tratava da chegada do Dr. Sullivan .
Dei um jeito no cabelo, vesti uma roupa ‘mais alegre’ e desci.




- Então é assim que minha queridíssima amiga pretende me encontrar?
- Jéssica! – ela interceptou meu abraço.
- Tem noção de como eu estava ansiosa com sua chegada, pra de repente simplesmente isso acontecer e você nem pra me procurar?
- Jéssica... Olha, só tem uma semana que eu cheguei...
- Sem mais, ta? Isso não se justifica.
- Você pode só me ouvir?



Ela deu-me as costas distanciando-se, antes de consentir que ‘sim’ com a cabeça. Parecia furiosa... Mas conhecia-a o suficiente a ponto de saber que este era o seu jeito de demonstrar que estava magoada, e ela tinha razão...
Me aproximei dela.
- Desculpe... Eu errei contigo, mas você precisa me ouvir, eu sei que não deveria, mas neste caso há defesa e eu vou me defender.
Então ela virou-se, dando me a chance de continuar.



- Só você sabe de como foi difícil largar tudo em Champ le Sims  e vir pra cá, só com você eu contei, você foi uma das principais razões para ter vindo, e você sabia disso. Sabia também que não seria fácil no começo, e ainda não está sendo fácil. Mas eu não podia simplesmente me apoiar em você.
- Você não entende? Você não estaria se ‘apoiando’ em mim, estaria contando comigo! Há uma grande diferença entre ambas as coisas.
- Posso te dar um abraço agora?
- Sua boba! - Ela sorriu com os olhos.



Éramos assim, sempre... Eu não sabia como era ficar ‘brigada’ com ela por muito tempo, eu não tinha uma personalidade muito fácil, mas a Jessica parecia entender e se encaixava tão bem em minha vida que parecíamos univitelinas.  
Foi uma amizade que me veio assim, do nada e do nado ficou, quando muitos eu não fiz nenhuma questão que ficasse... Vivia tão focada em meu trabalho na época, e a ‘moça de Barnacle’ em busca do vestido de noiva perfeito naquele fórum de moda Francesa, me chamou atenção. Vivi o sonho dela! Que infelizmente não durou muito. 
O casamento precipitado chegou ao fim sem uma lágrima, uma mágoa, um arrependimento se quer. Ela já contava comigo e eu já contava com ela. E por mais agitado que fosse o meu dia, eu sempre encontrava tempo de dividir com ela pelo menos 20 minutos dele. E foi assim até quando ela decidiu vir para Bridge, morar na companhia do irmão.



- Fica pra almoçar?
- Sabe que vontade não me falta?  Não pela fome, mas pela companhia... É tão bom ter você aqui!
- Então... Fica! Almoça comigo!
- Não dá! Tenho que correr para o trabalho, ou é demissão na certa. E não queremos isso... Certo!?
- Tudo bem vai. Me liga assim que tiver uma folga no trabalho.  Aliás, me liga quando sair do trabalho.
- Por que não marcamos algo hoje à noite? Uma espécie de despedida...
- Despedida?
- É... Eu, você... O And... Ele está saindo de férias amanhã ou depois, não sei quando volta. 



Nisso o celular dela tocou...
- Falando nele...
Bertrand entrou na sala para avisar que o Dr. Sullivan havia chegado.
- Me dá dois minutos?



Quando Bertrand saiu da saleta ela já havia desligado o telefone
- Que cabeça a minha! Você com visitas e eu aqui tomando seu tempo!
- Você não esta tomando meu tempo sabe disso, também temos muitas coisas pra conversar, não tem ideia das loucuras que me aconteceram desde que cheguei. Pena que eu não disponha de tempo agora ou ia acabar te alugando por alguns dias...
- Isso só será possível quando o And viajar... Essa preocupação dele em me deixar sozinha me irrita às vezes, dá impressão que eu não sei me cuidar.



- Você sempre tão exagerada!
- ‘Isso por que você não tem um Andrew em sua vida’!
- Ah não... Isso não!
Ela sorriu beijando-me um lado do rosto.
- Duvido que você ainda fale desse jeito quando o conhecer.
- Quem sabe?
- Até a noite.
- Até a noite então. – respondi.



Naquela tarde almocei na companhia do Dr. Sullivan, aquele velhinho simpático que havia me recepcionado no dia de minha chegada. Sabia que hora ou outra acabaríamos nos encontrando novamente, só não imaginei que fosse tão rápido.  
Terminado o almoço e após uma deliciosa torta de limão servida por Bertrand, fui com ele até a saleta, a fim de tomar conhecimento em parte de tudo aquilo que eu herdara e que pouco me importava, não estava ali pelas propriedades, ou bens adquiridos, mas pela memória de meus antepassados, eu era a ‘única’ de todo um legado. E esse peso caía sobre mim com a força de várias gerações.





- Esse é apenas um de nossos muitos e futuros encontros Srta. Morton, alguma dúvida, não exite em chamar.
- Creio que por hoje, por hora... Já saiba o suficiente. Obrigada.
- Espero que esteja bem instalada, que tenha gostado da propriedade.
- É uma bela casa! A visão da parte de trás, e maravilhosa e a cachoeira me encanta, ainda assim preciso de um tempo até me adaptar a estas paredes.
Ele olhou em volta e sorriu, provavelmente compreendia as razões.



Nossa reunião durou cerca de 2:30, e embora maçante, me foi proveitosa, Bertrand muito atencioso, não deixou que nos faltasse nada. E como todo bom Mordomo acompanhou o Sr. Sullivan até a saída. Enquanto eu voltava à imensidão do meu ‘nada’.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Entre acasos



- Bem... Acho que fico por aqui!
E antes de descer do carro ela falou:
- Nos vemos.
- Nos vemos – Respondi.
Fiquei ainda um tempo, pensando sobre as razões pelas quais ela havia me feito companhia por um dia inteiro, afinal foi eu que a segui até a biblioteca aquela manha, teria ela notado, ou por outra razão desconhecida decidiu fazê-lo? Ou ela era mesmo louca de pedra, ou perceptiva demais a ponto de notar o quanto eu me encontrava perdida aquela manha. Ela deu vida ao meu dia, e eu finalmente tive a sensação de que já pertencia aquele lugar!



- Espere!
Ela me olhou assustada, enquanto eu descia do carro em meio à escuridão da noite, caminhei até ela que tentava com dificuldade abrir o portão de entrada.
- Obrigada!
Em resposta ela me deu um abraço tão apertado que eu pude jurar ter ouvido os estalinhos dos meus ossos se comprimindo.



- Quel é vc???
A voz de alguém se fez soar pelo lado de dentro do portão, sem nenhum outro gesto compreendi que ela precisava entrar, o frio que fazia lá fora era enorme, sentia meu corpo começar a tremer por dentro, com ela não deveria ser diferente.
- Preciso ir!
- Não quer entrar?
- Fica pra outra ocasião, preciso mesmo ir!
- Bem... já sabe onde me encontrar, aparece qualquer hora?
- É possível que sim!



A caminho de casa não deixei de pensar em toda agitação que tinha vivido aquela manhã, muito mais do que eu poderia supor ser capaz de viver em um dia, estava exausta, mas em mim se fazia presente uma felicidade estranha.
O ruído longínquo de um trovão me lembrou do problema ainda existente no carro, pisei firme no acelerador, eu teria que estar logo em casa, o cenário começou a ficar assustador, as palavras de Raquel ecoavam desde cedo no meu ouvido. Não que eu temesse algum mal... Mas que diabos de histórias eram essas que cercavam os meus antepassados? Não queria me deixar impressionar pelas palavras dela... Mas não era a primeira vez que ao pronunciar o meu sobrenome eu tinha como resposta o silencio e alguns olhares assustados.



De repente um grito se fez ouvir:
- Sua louca!!!
Senti o sangue no meu corpo congelar... E isso não era devido o frio que fazia, mas o susto... Fui tomada por uma sensação de medo tamanha que precisei encostar o carro. Tudo isso rápido o suficiente a ponto de vê que se tratava de um homem. Tentei me recompor, então desci do carro e fui até ele, o cenário era sim tenebroso, mas eu duvido que se tratasse de uma ‘alma penada’.




Tão rápido quanto o meu susto, ele levantou esbravejando e veio em minha direção falando coisas ininteligíveis.
- Machuquei você? Desculpe!
- Escuta aqui moça... Por que não presta mais atenção na estrada, hein?
- Ei... Ei... Eu não vi você! E Convenhamos você estava praticamente no meio dela... Então por que VOCÊ não presta mais atenção por onde anda também?
- Você quase me matou!!!
- É... Mas não matei!!!



Percebendo que ambos estávamos errados ele respirou fundo e continuou.
-Tudo bem vai... Está desculpada! Mas ainda acho que você não devia dirigir em alta velocidade por aqui.
- Culpe esse mau tempo.
- É... O tempo enlouqueceu de vez, creio que o inverno chega mais cedo este ano.



- E você?
- Eu o que?
- Como ‘o que’? Pergunto o que faz por estes lados, a esta hora, zanzando por ai feito coisa de outro mundo!
- Você é quem me devia uma explicação por quase ter me atropelado, afinal... Por que tanta pressa rumo ao nada?
- Rumo ao nada? – Eu quis dá um soco na cara dele, e antes de responder a pergunta ele continuou:



- Olha... Dessa parte do caminho adiante, não há nada além da Mansão Morton, a menos que...
- Eu seja uma Morton?
- Você é uma 'Morton'?
- Acho que nos esquecemos de nos apresentar de maneira adequada. Então, prazer... – Falei enquanto estendia-lhe a mão que logo sentiu o calor da dele.
- Eu me chamo Luma Morton.



Ele ficou ainda um tempo me olhando, como alguém que tentava engolir alguma coisa, era aquela velha e conhecida reação ao pronunciar o meu sobrenome.
- Bem... Agora eu tenho que ir! – disse quebrando o silencio que havia se formado – Parece que o tempo tende a piorar e se chove, terei um grande problema pela frente.
Do carro, com uma pequena distancia entre nós ainda gritei:
- Cuidado com a estrada Peter Parker!!!
Pelo retrovisor vi ele dá as costas e continuar sua caminhada,
Sorri, pisando fundo no acelerador!



Entrei apressadamente, e não me surpreendi ao me deparar com Bertrand estático no hall de entrada.
- Ainda acordado?
- Não consegui entrar em contato com “a menina” mais cedo.
- Aconteceu alguma coisa?
- O Sr. Sullivan ligou. Espera sua confirmação para tratar amanha de assuntos importantes
- Que horas? Ele falou?
-  Ao meio dia, Senhora!
- Confirme pra mim. - Falei enquanto subia as escadas – Ah... Prefiro ‘o menina’ já falei pra esquecer-se desse ‘Senhora’!



Achei o quarto diferente... Não consegui saber ao certo em que exatamente, mas alguma coisa nele não estava igual ao que eu havia deixado de manha. Procurei na gaveta alguma coisa mais leve pra vestir antes de dormir.
No banho, enquanto a água morna deslizava pelo meu corpo eu pensava em todas as coisas que haviam me acontecido até então. Desisti de vestir qualquer coisa e sai do banheiro direto pra cama.



Tive uma noite agitada e em meio a tantos sonhos na penumbra do quarto eu via a moça na biblioteca, um almoço com uma estranha que no fim do dia brindava comigo uma amizade recheada de loucuras, parecia me conhecer, mas pouco me falou sobre ela, e tinha aquela voz no interior da casa, o homem misterioso no meio da noite, e no final um nome, Peter Parker... Isso era tudo o que eu havia conseguido arrancar dele.
Se ainda nos veríamos?
Não sei. Em mim uma única certeza havia. A de que nada acontece por acaso!